Cordel: A carta de um canário à senhora mãe justiça
Cordel do poeta potiguar Léo Medeiros abordando os tráficos ilegais de animais silvestres, a questão ambiental e sociedade.
Ao rei dos reis eu suplico
O poder da inspiração
Para narrar uma carta
Que me causou comoção
Escrita por um canário
Que é de partir coração.
Leitores preste atenção
Que tudo assim começou
Um papagaio me disse
Que um dia conversou
Com um canarinho preso
E veja o que ele contou.
Segundo o louro falante
O canário do sertão
Estava numa gaiola
Rodeada de alçapão
Amargando as mazelas
Na mais horrível prisão.
O canário conversou
Com o louro hora e meia
Contou-lhe todo o viver
Fora e dentro da cadeia
No final leu uma carta
Mostrando que a coisa é feia.
Dizia mamãe justiça
Sou eu um pobre canário
Minha cantiga é mazela
E alpiste é meu salário
Estou padecendo mais
Do que Cristo no calvário.
Antes de eu vir habitar
Essa infeliz moradia
Num pé de serra bonito
Era o lugar que eu vivia
Cantando tão afinado
Num coro de sinfonia.
Tristeza não existia
Tampouco infelicidade
Pois lá a fauna e a flora
Tem um laço de irmandade
E o sol derrama de dia
Raios de felicidade.
Sinto falta dos passeios
Nos galhos das verdes matas
Comendo frutas sadias
Me banhando nas cascatas
Dormindo cedo e acordando
Com as belas serenatas.
Eu tinha grande amizade
Com campina e azulão
Conhecia coisas belas
Que havia na região
Antes eu cantava livre
Hoje choro na prisão….
Cordel: A carta de um canário à senhora mãe justiça
Autor:Léo Medeiros
Trilha Sonora: Tião Simpatia