Literatura

Dom José Adelino Dantas, o bispo do Seridó.

Hoje é o aniversário natalício de um autêntico filho do Seridó. Dom Adelino Dantas foi um homem do seu tempo em todos os bons sentidos. Entregou-se a Deus e nunca deixou de amar sua terra, sua história, sua cultura e seu povo. Homem de Deus tornado Padre e depois, Epíscopo foi o primeiro bispo das terras do Seridó potiguar e o único seridoense dentre os bispos de Caicó se destacando também por sua erudição e cultura. Grande latinista dominava ainda o francês, o italiano e o grego. E além de clérigo e poliglota era professor, pesquisador e historiador das coisas da sua terra e escritor tendo escrito e publicado três livros. 

Nascido no dia 17 de março de 1910 na Fazenda Saco da Luiza, São Vicente, José Adelino Dantas era filho de Antônio Adelino Dantas, natural de Carnaúba dos Dantas e de Jovelina de Oliveira Dantas. Aos cincos anos de idade fica órfão de pai e vai residir em São Paulo do Potengi. Aí, em 1925 durante uma visita pastoral a São Paulo do Potengi, o bispo de Natal Dom José Pereira Alves conhece o menino José Adelino, se interessa por ele, que demonstrara vocação e inclinação voluntária para o sacerdócio e leva-o para o Seminário de São Pedro. Adelino ingressa no seminário diocesano da Arquidiocese de Natal no dia 05 de fevereiro de 1925 e realiza seus estudos completos se alternando entre Natal-RN e João Pessoa-PB.

Em 18 de novembro de 1934 é ordenado padre no Santuário de Nossas Senhora das Graças e Santa Terezinha em Natal. Celebrou a sua primeira missa no dia 21 de novembro de 1934 em Carnaúba dos Dantas, terra de seu pai. A segunda missa foi celebrada em São Vicente, onde nasceu e a terceira, em São Paulo do Potengi onde sua mãe o criou sozinha, onde cresceu e descobriu a sua vocação. Neste mesmo ano foi nomeado vigário de Santo Antônio do Salto da Onça tomando posse em 08 de dezembro de 1934. Porém pouco tempo depois, em 25 de março de 1935 é nomeado novo Reitor do Seminário diocesano de São Pedro e volta para Natal para substituir o seu ex-professor e conterrâneo seridoense, Mons. Walfredo Dantas Gurgel. Foi reitor e professor no Seminário por dezessete anos e seis meses e exerceu o magistério no renomado colégio Atheneu Norte-Riograndense de Natal. 

Em junho de 1952 é eleito e nomeado o segundo Bispo da Diocese de Caicó-RN pelo papa Pio XII. A sua sagração episcopal foi em 14 de setembro de 1952 em missa solene pelas mãos de Dom Marcolino Esmeraldo de Souza Dantas, Arcebispo de Natal e tendo como consagrantes: Dom Aureliano de Matos, Bispo de Limoeiro do Norte-PE e Dom Eliseu Simões Mendes, Bispo auxiliar de Fortaleza (mais tarde, bispo de Mossoró) e em 20 de junho de 1952 toma posse em Caicó. Foi o primeiro bispo do Rio Grande do Norte sagrado em Natal, todos antes dele eram sagrados fora do estado. Exerceu seu pastoreio episcopal em Caicó por apenas seis anos, de 1952 a 1958, e depois em 13 de setembro de 1958 foi transferido para a Diocese de Garanhuns-PE, para substituir o bispo Dom Francisco Expedito Lopes, assassinado pelo Padre Hosana de Siqueira e Silva. Dez anos depois, em 08 de maio de 1967, foi transferido para a Diocese de Rui Barbosa, Bahia. Como bispo de Caicó foi um grande catequista, onde trouxe o Pe. José Lamartine Soares, futuro bispo auxiliar de Dom Helder Câmara, vindo da Arquidiocese de Olinda e Recife para realizar a I Semana de Catequese da Diocese de Caicó, efetuada de 07 a 12 de janeiro de 1957 com a presença do Pe. Álvaro Negromonte. No seu episcopado houve a visita da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima à Diocese de Caicó e, para marcar este evento, construiu o Arco do Triunfo em frente à Catedral de Sant’Anna. Em 19 de outubro de 1975 apresentou o pedido de renúncia ao Papa Paulo VI e, a após tornar-se emérito, fixa morada em Carnaúba dos Dantas, terra de seus antepassados, onde reside até falecer, em 24 de março de 1983. Seu lema episcopal era: IN FINEM DILEXIT – amou até o fim.

Dom Adelino Dantas, além de pastor zeloso e primoroso das dioceses onde fora bispo, exerceu inúmeras outras atividades além do episcopado. Foi também intelectual, homem de letras, pesquisador e escritor, culto, poliglota e professor. Muito ativo na vida intelectual do Rio grande do Norte foi professor no Seminário São Pedro e fora dele. Lecionou no Atheneu Norte-Riograndense em Natal; realizou conferências memoráveis em diversas instituições e em eventos solenes; foi membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, e por fim membro da Academia de Letras Potiguar, na cadeira nº 22 ( Patrono – Cônego Leão Fernandes), eleito no dia 13 de setembro de 1949 sendo acolhido por saudação feita pelo grande intelectual e folclorista potiguar Luiz da Câmara Cascudo. Como intelectual fora professor, escritor, pesquisador, jornalista, ensaísta, poeta, historiador, genealogista e orador sacro além é claro de ter sido um dos maiores e dos mais brilhantes latinistas do Rio Grande do Norte.

Escreveu as seguintes obras:

– Formação do Seminarista -1947

– Homens e Fatos do Seridó Antigo – 1962

– O Coronel de Milícias Caetano Dantas Correia – Um Inventário Revelando um Homem

Dele nos disse o saudoso Mons. Ausônio de Araújo Filho em seu livro, Coisas da Vida: “Profundo amante das pessoas e fatos de nosso Seridó, esquecia-se, talvez, de que o Seridó de nossos ancestrais já está quase totalmente identificado com a civilização do consumismo e da permissividade, respirando ares que não mais se identificam com os valores e tradições dos que nos precederam. ” Seus últimos anos de vida, viveu-os na casa Paroquial da Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro ao pé do Monte do Galo em Carnaúba dos Dantas, onde contribuiu muito para divulgar a obra dos geniais músicos: Tonheca Dantas e Felinto Lúcio Dantas, ambos músicos de renome internacional, sendo que Felinto Lúcio Dantas era seu grande amigo pessoal com quem ele gostava de conversar sobre música, das coisas do sertão, genealogia e História. Ao falecer legou-nos lições de coragem, caridade, amor e reverência às coisas sagradas, à nossa terra e às tradições do Seridó.

       Por: Damião Silva

Fontes: “ Do Seridó que a gente ama Vol. II” – Fernando A. Bezerra; / “ Coisas da Vida” – Mons. Ausônio de Araújo Filho;/ “ Calendário Histórico Potyguar e Seridoense” – Adauto Guerra;/ “ Homens e Fatos do Seridó Antigo” – Dom José Adelino Dantas;/ “ Revista 70 anos da Diocese de Caicó- por: Pe. Gleiber Dantas de Melo. 

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