Poemas e Poesias

Importunança de Campanha Inleitorá

Eu mincontrei ternontonte
Cum cumpade Viturino
Tava ele Sivirino
Marido de Guiomar.
Nóis peguemo a proseá
Na budega de Dom dom
Jogano cunversa fora
Quano passô bem na hora
Um carro véio de som.

Ligado em arto volume
Que era fei o istampido
Tampemo logo os zuvido
Pra num ir pro hospitá
Má terminô de passá
Atrevessosse uma moto
Ôto baruio infernal
Dizeno eu sô legal
Só priciso do seu voto.

Eu fiquei arreparano
Falando cum meus butão
Como é a situação
Desse povo canidato
Só home bom e inzato
Apertano a mão da gente
Prometeno miuria
E andano noite dia
Pulas rua surridente.

Tô ficano impaciente
Cum essa arrumação
Lá na vila união
Onde eu moro mais maria
Parece uma rumaria
De pulítico nas carçada.
Abraço véio mijado
Dão chêro em nenê obrado
Inda sai dano risada.

Entro em casa de taipa
Vão batê lá no fugão
Come ovo cum fêjão
Cuma fosse caviar
É obrigado aturá
Cunversa de bebo chato
Mas diz num tem nada não
A dispois da inleição
Todo mundo paga o pato.

Pulítico é bicho gaiato
Parece atô de novela
Passa a noite em sintinela
Chora junto do caixão
Acompanha procissão
De todo santo é devoto.
Vai da missa ao cabaré
Infreta quaiqué banzé
Pra garantí o seu voto.

Uma coisa que eu noto
Nos tempo inleitorá
É vê os caba falá
Em raida e tevelisão
Que nóis samo cidadão
E temo o maió valô!
Eu fico a mi proguntá
Istão quereno zumbá
Da cara do inleitô

Que cidadão é que eu sô
Que desna que fui gerado
Pago um imposto danado
E não gozo do tributo
Não posso prová do fruto
Pranto pros ôto cuiê.
E quano chega essa óra
Aparece sem demora
Gente pra mi aburrecê.

Me acordo cum fuguete
Bem ante do só nascê
E vai inté anoitecê
Sem discançá um momento
Inquanto eu sinto trumento
Cum essa incomodação
Tem gente que tá lucrano
Seu voto niguciano
Sem a menó precupação.

O tá inleitor pidão
Que só veve em cumitê
Lá tá quereno sabê
Proposta de canidato
Quer vê cumida no prato
Dinhêro ô mermo favô.
É ele o maió cuipado
De tê pulítico safado
Corruto e inganadô.

Eu num vejo meu sinhô
Numa isquina um papudim
Seja de tarde ou cedim
Tão tudo no arrastão
Bebe inté cair no chão
E se levanto dizeno
Valei-me meu são cinzano
Dai-me inleição todo ano
Qu’eu quero morrê bebeno.

Inquanto o som vai cumeno
Em rua, praça, ribêra
E um bucado de bandêra
Balança em todo lugar
Tá chegando a Hora agá
Si aproxima o dia dê
Do sujeito incaicá
O butão e sinzolá
De quem vai para o pudê.

É purisso que micê
Pricisa tá preparado
Mode num sê inganado
Uvino farsa premessa.
Num vá cair em cunversa
Que voto num é brinquedo.
Pense bem na óra agá
Qué pra micê num ficá
Chorano e chupano o dedo.

Autor Léo Medeiros

Sobral, 29 de agosto de 2006.

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