Se o nordeste me desse condição eu rasgava a passagem mas não ia.
Bastava somente eu ter em mãos
Um arado, um boi caminhador
Um açude cheio, um bom motor
E terras férteis pr’eu plantar os grãos
Que duvido que eu e meus irmãos
Do Rio Grande, Alagoas e Bahia
Que amamos forró e cantoria
Fosse atrás de riqueza noutro chão
Se o nordeste me desse condição
Eu rasgava a passagem mas não ia.
Acabei com os bichos do terreiro
Vendi gado, jumento e alazão
Fui à rua comprei na estação
Uma passagem pro Rio de Janeiro.
Falei ontem com Chico Bodegueiro
Pra fornecer a feira pra Maria
Amanhã logo cedo sigo a via
Embarcando com dor no coração
Se o nordeste me desse condição
Eu rasgava a passagem mas não ia.
Sem chuva ficou tudo esturricado
O milho nem chegou a pendoar
O meu feijão murchou sem fulorar
Todo plano que fiz saiu errado.
Vou atrás de melhora noutro estado
Com empréstimo que fiz na freguesia
Hoje mesmo eu disse pra titia
No batente da porta do oitão
Se o nordeste me desse condição
Eu rasgava a passagem mas não ia.
O lamento tristonho da acauã
Veio dizer que a chuva vai tardar
Sendo assim não tem jeito vou pegar
O expresso que sai pela manhã.
Bença mãe, bença pai, adeus irmã
Rezem por mim pra Deus ser o meu guia
Que eu prometo pra cá voltar um dia
Pra casar na matriz com Conceição
Se o nordeste me desse condição
Eu rasgava a passagem mas não ia.
Eu queria que os homens do poder
Que aparecem no tempo de eleição
Fossem ver bem de perto meu sertão
Pobre gente sem ter o que comer.
Não tem água no pote pra beber
Carro pipa não passa todo dia
O dinheiro não vence a carestia
E o jeito é correr do meu torrão
Se o nordeste me desse condição
Eu rasgava a passagem mas não ia.
Mote Celso Olegário.
Glosas: Léo Medeiros
Sobral, 04 de novembro de 2008.